quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Doa a quem doer...


O limiar de dor é algo pessoal e intransferível. Quando o médico pergunta o quanto dói, numa escala de 1 a 10, trata-se de uma pergunta totalmente subjetiva. O meu 9 pode ser equivalente ao 2 de outra pessoa.

Quando comecei a ter contrações, na 39a semana de gravidez, ao chegar no hospital a enfermeira perguntou de 1 a 10 quanto estava doendo. Respondi 7. Ela ligou uma máquininha, doravante descrita como máquina do inferno e a maldita apontava que eram contrações fracas. Fracas para quem? Certamente a máquina nao sentia nada e a insensível da enfermeira menos ainda; nem empatia ela tinha! Foi com total desdém que ela me avisou que a dor era fraca e que eu deveria voltar para casa.

Não sei se existe um ranking para dor. Acho que sim. No top do ranking, as dores mais famosas seriam a dor do parto, a cólica renal e um belo chute no saco.
Imediatamente abaixo, creio que esteja a dor de dente.
Hoje vou falar da dor de ouvido. Existem dois tipos de dor de ouvido: Uma é a dor física, dói por infecção, por ter entrado água no ouvido, por pressão interna, sei lá, não sou médica e já faz muitos anos que senti esta dor pela última vez. Acho que parte do tratamento era pingar gotinhas de álcool no ouvido.
A outra dor, tenho sentido regularmente. Trata-se daquela dor forte que dá quando ouvimos uma besteira muito, muito grande. Erros de português gritantes, por exemplo.
Dói um pouco quando ouço: se você poder fazer. Dói muito mais quando ouço: se a senhora querer.
Dói um pouco quando ouço: fazem 2 anos ou para mim fazer. Dói muito mais quando ouço: três minuto; todos os amigo aqui reunidos.
Meu ouvido tem doído muito ultimamente. E gotinhas de álcool não são suficientes para aliviar a dor. Haja álcool.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Hospital das bonecas


Quando eu era criança eu ganhava brinquedo três vezes por ano: no meu aniversário, no dia das crianças e no fim do ano. Eu me lembro muito bem que às vezes eu ganhava o presente e às vezes eu ia na loja escolher o brinquedo. Era uma grande satisfação.
Eu me lembro muito bem de um cachorrinho chamado Xodó que latia e pulava ao som de uma musiquinha: lá vem o Xodó, lalalala.
Um dia o Xodó, que ia comigo para todos os lugares, quebrou. Levamos o Xodó para o hospital de bonecas. Foi um pouco frustrante, eu esperava um hospital com leitos, soro, médicos, um lugar onde eu ficaria ao lado do meu Xodó enquanto ele convaleceria de sua enfermidade e não era nada disto. Tratava-se de um balcão que recebia os brinquedos quebrados e em troca a mãe ganhava um papel com um número para depois aprovar ou reprovar o orçamento. Apesar da decepção, o Hospital das Bonecas cumpriu sua função e o Xodó voltou são para casa, embora um pouquinho sequelado. Ele ainda latia, mas não dançava mais. Continuava sendo meu Xodó querido.

Ontem, após cerca de 30 anos, voltei ao Hospital das Bonecas. Fui deixar uma babá eletrônica para ser arrumada após ela ter sido torturada em uma tomada 220V. Desta vez, sob a ótica adulta eu fui menos exigente com o tal do Hospital. O balcão se mantém e a falta de leitos também, mas achei interessante que no canhoto que eles entregam não consta um número de serviço e sim um número de internação. Gostei que eles vendem roupas para bonecas, sapatinhos perdidos de candidatas a Cinderela do mundo dos brinquedos e mantém um silêncio hospitalar. Gostei também que eles tem uma noção de urgência. Babás eletrônicas devem ser colocadas na fila das emergências, pois me foi dito que demoraria 2 semanas somente par ter o orçamento e após um dia eu já tinha o orçamento em mãos.
O meu número de internação era 41.547 e isto me deixou um pouco surpresa com a quantidade de brinquedos quebrados que são levados até lá (ou será que este número é sequencial há mais de 30 anos?).
Foi uma viagem ao túnel do tempo ter voltado lá. E me deu muitas saudades do meu Xodó.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Conversa alheia




Em algumas situações é muito divertido ouvir a conversa alheia. Eu sei que não é muito bonito, mas em público, até dá para fechar os olhos, virar o rosto, mas de vez em quando é inevitável ouvir algumas conversas.
Outro dia, ouvi uma mulher falando ao celular:

"Preciso saber se o enrolado vai para a ilha. Preciso dele e do Dorival que é mais rápido que o Baiano".
Claro que por ser uma conversa ao celular não pude ouvir o que respondia a pessoa do outro lado, mas fiquei pensando: quanto lento deve ser o tal do Baiano para que um sujeito com o apelido de Enrolado seja mais rápido que ele?
O que será que esta mulher quer com o Enrolado na ilha?
Isto é jeito de falar do Baiano? Não me parece politicamente correto!

Acho que a mulher percebeu que eu estava ouvindo tudo e fazendo minhas conjecturas, porque ela levantou-se e foi falar em outro lugar. Que pena, nem deu tempo de saber que ilha era. Ilha Bela, Ilha de Caras, Ilha de edição?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Barriga não me dá saudades. Paris sim!

Cheguei a conclusão que gravidez é como uma viagem de avião. Você entra no avião e não sabe como é o lugar onde você vai chegar. Você lê muito sobre o assunto, nos guias de viagem e todos a sua volta dizem que você vai adorar para onde está indo. Você acredita, porém tem ressalvas. Será que eu vou gostar?
Durante o trajeto, você fica o tempo todo com uma miscelânea de emoções: ansiedade, felicidade, realização, medo, desconforto físico. Não sabe direito onde colocar a perna, fica sem posição para dormir. A comida fica meio intragável e não é à toa que em ambas as situações é fundamental ter um saquinho de vômito muito facilmente posicionado.
Durante toda a viagem você tenta se distrair, ler, ver filmes, conversar, mas sempre tem uma tensão no ar, um risco de turbulência.

E após todos este calvário ainda tem a fila da imigração, a espera pela bagagem, contudo após cumprir todas estas etapas e passar por este desconforto: tchan tchan... você chega em Paris!
E descobre que quem passou por isto antes de você tinha toda razão: é maravilhoso! Você passeia descobrindo novas paisagens, as refeições voltam a ser prazerosas, você se depara com novos aromas e seus olhos não se cansam de tanta beleza.

Da mesma forma que passear por Paris, em alguns momentos você sente um cansaço que beira a exaustão, dor nas pernas de tanto andar, mas é aquela exaustão feliz que você sabe que o dia seguinte vai ser lindo de novo!

Ouvi de diversas mulheres que após o parto elas ficaram com saudades da barriga. Definitivamente não é o meu caso. Que contentamento que é voltar a dormir de bruços, não ter soluços, conseguir colocar a meia sem precisar sentar na cama, vestir as calças em pé.

Liberdade é pisar em terra firme, chegar em Paris e não ter barriga!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

You and I will be as free as the birds up in the trees

http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/286164/


I'm so young and you're so old
This, my darling, I've been told
I don't care just what they say
'Cause forever I will pray
You and I will be as free
As the birds up in the trees
Oh, please stay by me, Diana

Thrills I get when you hold me close
Oh, my darling, you're the most
I love you but do you love me
Oh, Diana, can't you see
I love you with all my heart
And I hope we will never part
Oh, please stay with me, Diana

Oh, my darlin', oh, my lover
Tell me that there is no other
I love you with my heart
Oh-oh, oh-oh, oh-oh
Only you can take my heart
Only you can tear it apart
When you hold me in your loving arms
I can feel you giving all your charms
Hold me, darling, hold me tight
Squeeze me baby with all your might
Oh, please stay by me,
Baby I love You, Diana
Baby I love You, Diana

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Reveillon fora de época

Adeus ano velho, feliz ano novo... que tudo se realize, no ano que vai nascer...

Há meses que ouço que a minha vida vai mudar completamente. E acredito que vai mesmo, mas confesso que não consigo ainda imaginar o que vai acontecer de fato.
Acho que apesar do preparo que a natureza nos dá, durante 9 meses, a ficha só cai mesmo na hora concreta em que estamos com o bebê nas mãos, o que vai acontecer daqui a algumas semanas. Até lá, é como se fosse um pré-reveillon. Fazemos promessas, imaginamos situações, tentamos prever como nos comportaremos, achamos que controlamos uma boa parte das variáveis...
Imagino que vou dar risada de tudo o que imaginei até agora...
Em algum lugar está escrito que a gente faz planos e Deus ri.
Que venha este ano novo, com tanta coisa nova que virá acompanhando.
Para esta viagem, eu não tenho guia Lonely planet, nem mochila preparada, nem passagem de volta...só tenho um monte de palpites e dicas vindas de todos os lados e como toda viagem, a minha experiência será só minha.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Agarre bem para não se magoar

A frase foi dita na minha língua nativa: português.
O contexto? Bom, uma frase desta poderia estar inserida em qualquer contexto. Poderia ser um conselho de mãe, de amiga, do homem amado, mas surpreendentemente, veio de uma comissária de bordo!
Volto a repetir: a frase foi dita na minha língua nativa, mas parece que o português de Portugal é uma outra língua!
No avião, em um momento de turbulência que já durava muitos e muitos momentos, precisei ir ao banheiro (ou casa de banhos, como dizem os lusitanos). E eis que veio este conselho da comissária de bordo. E então, descobri que magoar-se em Portugal, significa machucar-se, inclusive ou unicamente, não sei, fisicamente.

Pensei... (em português do Brasil) - Será que alguma vez que eu me machuquei eu não me magoeei? Me lembrei de um tombo que eu tomei em um supermercado há alguns anos. Magoou até a alma - de vergonha.
O contrário é óbvio: todas as vezes que eu me magooei fiquei de alguma forma machucada fisicamente também.
Na dúvida, me agarrei o máximo que pude. E saí ilesa da turbulência...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A parte pelo todo


Este calção está todos os dias pendurado no varal da casa do meu vizinho.
Vou repetir: Todos os dias. Dias de sol, dias de chuva. Impreterivelmente.
Não existe piscina na casa dele.
O que existe, é uma vizinha curiosa que não consegue imaginar o motivo do calção estar lá todos os dias.
Alguns dias o cara pendura dois calções. Um igualzinho ao outro.
Olhando pela minha janela, não consigo identificar bem, será que é uma cueca. Cueca preta?
Uma vez ouvi uma história de um amigo que morava em uma república com mais uns 6 homens. Para que não houvesse uma mistura nas cuecas, decidiram que cada um teria uma cor específica para todas as suas cuecas. O tal do meu amigo foi sorteado com a cor vermelha. Só podia comprar cuecas vermelhas. Nem quero imaginar a vergonha que ele deveria passar quando passava a noite pela primeira vez com uma garota. Deve ser por isto que ele se casou muito cedo. Para não precisar mais usar somente cuecas vermelhas.

A casa do meu vizinho não é uma república. Ou é: a República da cueca preta.
Dentre as dúvidas que tenho, eu penso: por que será que a cueca está sempre no varal? Deve ser de um tecido de secagem muito, muito lenta.
E por que nenhuma outra roupa nunca apareceu neste mesmo varal? Será superstição?


O tal do calção é a única informação que eu tenho sobre este vizinho. Para mim, ele se resume ao homem do calção preto na janela.
Se eu encontrá-lo na rua, não haverá a menos chance de reconhecê-lo. A não ser que esteja vestindo unica e somente, a tal da cueca preta.

domingo, 10 de abril de 2011

Todos os caminhos levam a Roma

Em dezembro de 96, inverno, tive um desencontro com Roma.
Parte de uma viagem maravilhosa, aquela em que encontrei um par de asas no bolso e aprendi a voar, Roma foi uma decepção. Fui ludibriada, passei mal fisica e emocionalmente lá. Na Fontana de Trevi não joguei uma moedinha, porque não tinha vontade de voltar para esta cidade. Magoada e triste, encurtei a estada de 4 para 2 dias. Que bom que sobraram mais dias para Barcelona que soube me acolher de forma inesquecível. Que bom, também, que outra pessoa jogou uma moedinha, desejando que eu voltasse para Roma em outra ocasião.

A outra ocasião aconteceu, exatos 10 anos depois, no verão de 2006. Neste período de 10 anos, acredito que as mudanças em mim foram mais visíveis que as mudanças da eterna Roma.
Novamente fui ludibriada, mas desta vez de forma menos impactante e que não atrapalhou o lindo encontro que tive com Roma. Fiz as pazes com a cidade. Me deliciei passeando sozinha pela cidade, rindo dos romanos, e pude, com muito gosto jogar mais de uma moedinha na Fontana de Trevi, agradecendo por ter uma nova chance com a cidade e pedindo que quem desejou por mim, também pudesse ter novas vindas a Roma.

E agora, 5 anos depois, me preparo para ir novamente para Roma. Mais uma vez, imagino que Roma não deve ter mudado quase nada, mas eu... que 5 anos intensos, de tristezas profundas, de alegrias imensas, de muito auto-conhecimento. O que será que Roma reserva a mim desta vez?

quarta-feira, 23 de março de 2011

tempo, tempo, tempo, tempo

Em uma conversa com amigos há alguns dias, derivamos para uma constatação óbvia: o tempo é cruel, sob o ponto de vista da estética, mas é bem mais cruel com as mulheres que foram muito desejadas na adolescência e início da juventude.
O pivô da conversa, foi o encontro de um dos participantes da conversa, encontro muito causual, diga-se de passagem, com uma tal de "musa das partes traseiras".
O descrito encontro, testemunhado por mim, ocorreu no supermercado, as 8 da noite de um sábado. Eis que aquela que um dia teve reputação universitária pautada nas curvas de sua geografia, vinte anos depois passaria totalmente desapercebida na fila do caixa, não fosse seu histórico de glória, nem um comentário mereceria.
Foi díficil entender como aquela mediocridade, em uma calça justa, verde, um rosto cansado, de quem tem tido poucos prazeres na vida pode ter sido um dia tão encantadora.
20 anos. O que será que houve nestes 20 anos com esta mulher? Que acontecimentos será que marcaram as linhas de seu rosto de forma tão profunda e definitiva?
E a vaidade? Por o que será que foi substituída? Nada de maquiagem, uma roupa de ficar em casa. Talvez a certeza de não encontrar ninguém? Ledo engano. Encontrou. Um ex colega de faculdade. Talvez um que tenha se orgulhado de ter saído com ela há 20 anos, talvez um que tenha tentado e se frustado com um fora dela.
20 anos. Não voltam mais...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Agradeço a santo expedito pela graça alcançada

Aos 8 anos, comecei a ficar míope. Embora filha de pais levemente míopes, daqueles que só usam óculos para ir ao cinema ou dirigir à noite, minha miopia foi crescendo muito mais rápido que eu. Aos 14 anos tudo estava definido: 1,61 de altura e 6 graus. O suficiente para não viver um minuto sem os óculos.
Tateava no criado-mudo por eles, assim que acordava. Sofria quando quebravam e tinha que usar o reserva, sempre ainda mais feio, e muito frequentemente com grau desatualizado.

Passei a usar lente de contato: esteticamente a situação melhorou, mas os cuidados eram chatos: tinha que ferver a lente todos os dias por 3 minutos. Quantas vezes esqueci no fogão e torrei as lentes. Depois vieram os limpadores, mas quantas vezes a lente não foi embora pelo ralo da pia do banheiro...

Eis que o milagre aconteceu: a vontade de me livrar da limitação visual superou o medo e fui me consultar com santo expedito. E que santo! Me passou uma credibilidade, uma calma, que decidi operar.

Faz pouco mais de 10 anos, mas me lembro como se fosse hoje. As pernas tremiam tanto que eu não conseguia ficar parada na maca. E santo expedito ia explicando cada sequência do procedimento. Foram loooongos 10 minutos...
E na saída, uma caixinha: doe seus óculos...

Foi uma sucessão de pequenos momentos felizes: enxergar o shampoo no banho... 4 pontos no ranking da felicidade; acordar e enxergar o quarto... 8 pontos no ranking da felicidade; ir viajar sem o aparato: lente e apetrechos, oculos e reserva, oculos escuro de grau... pontuação máxima no ranking da felicidade!

Estou aproveitando cada minuto. O problema de enxergar longe é que consigo olhar para frente e enxergo que em mais alguns anos a presbiopia me alcançará...