quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Ateu, Graças a Deus

A tarde era ensolarada, quase no limite do que a minha pele branca poderia achar aprazível. A grama verde me chamava para rolar. Nenhum adulto por perto, a sensação de liberdade máxima que uma criança pode sentir. Eu corria como se não houvesse amanhã, aproveitando cada centímetro daquele espaço livre. Balançava os braços, soltava o corpo, me jogava no chão. Sozinha, mas não solitária, na melhor companhia possível, a da minha imaginação. Nos devaneios, a possibilidade de voar, de mergulhar, de ser a super-heroína dos meus desejos, a poderosa Isis: "Ó Zéfir que comanda o ar, levante-me do chão para que eu possa voar". E voava, voava, voava. Quanto tempo se passou, não sei dizer, nem quero precisar. O tempo cronológico não importa, para mim, era a quantidade perfeita de tempo. - Menina, você está sozinha aí? Que loucura, você é muito pequena! Não pode ficar sozinha. Não podia? Por quê? Nunca havia me sentido tão completa e protegida! - Venha cá, por Deus! Que perigo! Graças a Deus você está bem. Com Deus, eu não estava e nem queria estar. Deus não tinha o direito de estragar a minha alegria de estar só, Deus não poderia ficar com o mérito daquele momento mágico. E foi neste momento que ficou claro para mim: se eu não acreditar nele, ele não estará perto de mim quando eu quiser ficar só. Aos cinco anos eu rompi o laço com Deus e fiz meus votos comigo mesma.